segunda-feira, 28 de abril de 2014

Compartilho aqui uma referência minha de poeta e poesia latino-americana, gratidão pelo seu ser e estar no mundo velho Belchi... a subversão enquanto ética de vida...

Como o Diabo Gosta

Não quero regra nem nada
Tudo tá como o diabo gosta, tá,
Já tenho este peso, que me fere as costas,
e não vou, eu mesmo, atar minha mão.

O que transforma o velho no novo
bendito fruto do povo será.
E a única forma que pode ser norma
é nenhuma regra ter;
é nunca fazer nada que o mestre mandar.
Sempre desobedecer.
Nunca reverenciar.

Belchior

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Auto-fagia


Quanto tempo vale o tempo?
Quanto tempo leva a história?

A história é uma senhora lenta.
Por vezes perversa.
Nos engole.
Sem ao menos a gente perceber.
Estamos dentro dela.

Quanto tempo vale o tempo?
Quanto tempo leva a história?



Fortaleza, abril de 2014.




segunda-feira, 7 de abril de 2014

ESTIGMA


A mais insensata abstração,
                            em matéria se transforma.

A mais absurda evidência,
                             metáfora se faz.

Eis o estigma de um sonhador vivente.

Que pela ontológica dificuldade de por os pés no chão.

Vive a voar. (Voa pra Viver)

(Voa,) Inventa, mas não mente.

Poetas.

Loucos para uns.

Vândalos para outros.

Algumas vezes sarcástico, lascivo, irônico.

Muitas vezes confundido, exaltado, agredido.

Mas também.

Quem mandou ser poeta.





quarta-feira, 2 de abril de 2014

Avenidas ao Sul


Seis da manhã.
Sábado quente.
Borges de Medeiros vazia:
               de cidadãos comuns.

Avenida cheia:
               condenados das ruas;
               putas exaustas;
               corpos cambaleantes;
               remanescentes da noite.

Mercado Público Fechado.
Não há café passado.
Imponente, segue o Guaíba.
Ilha das Flores em pleno outono.

Extasiado, confirmo.
Existe pobreza ao sul do país.


Porto Alegre, Março 29, 2014.